Empresárias contra existência de legislação que vise levar mais mulheres ao poder

A Comissão Europeia pondera avançar com regulação específica que facilite o acesso das mulheres aos lugares de responsabilidade nas decisões das empresas, e não põe de lado a possibilidade de impor quotas para repor a paridade.

Em Portugal, a secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, anunciou estar a preparar um plano para apresentar aos parceiros sociais com vista a promover a igualdade.

Passado o Dia Internacional da Mulher – celebrado, pelo centésimo ano consecutivo, a 8 de Março – e produzidos os anúncios (da Secretaria de Estado Elza Pais) e as ameaças (da comissária europeia para a Justiça e Igualdade, Viviane Reading), o que pensam as mulheres empresárias portuguesas? “Liminarmente contra as quotas”, mostrou-se a presidente da construtora Edifer, Vera Pires Coelho. “Só em última instância”, admite Maria Cândida Carregosa, a primeira mulher corretora em Portugal e também a primeira a fundar um banco. Francisca Vermelha, que preside à Triumph (empresa de lingerie) em Portugal, diz que “criar condições que facilitem a chegada de mulheres ao topo das empresas é um imperativo”, mas mostra-se contra as quotas e a favor da meritocracia.

A discussão está aberta. Há consenso no diagnóstico – o mundo empresarial europeu é desequilibrado em termos de género, com três por cento dos lugares de topo nas empresas a serem ocupados por mulheres. As divisões surgem quando se fala de terapêuticas. A comissária europeia para a Igualdade, Viviane Reding, continua a preferir a auto-regulação de cada estado-membro, mas deixou claro no seu discurso pretender monitorizar os progressos de cada país e passar à prática no prazo de um ano. Em Itália, um dos países onde a desigualdade de género é mais acentuada, está a ser preparada uma proposta legislativa que visa impor uma quota de 30 por cento nos lugares de chefia nas empresas. Em Portugal, a secretária de Estado explicou que está a ser preparado um plano para tentar atenuar a disparidade que “existe mais nas empresas do que na administração pública” e que é visível também a nível salarial. O plano, que Elza Pais diz estar a ultimar em conjunto com a ministra do Trabalho, pretende também combater o desemprego feminino e promover políticas de conciliação da vida pessoal, profissional e familiar. Poderá ser apresentado em Abril.

As três mulheres que o PÚBLICO conseguiu contactar mostraram-se contra o sistema de quotas, evidenciando preferência nas “interferências” legislativas e educacionais noutras áreas. Maria Cândida Carregosa foi a única que admitiu quotas, mas defende-as “apenas de uma forma transitória” e “em última instância”. Ou seja, se se provar que é a única maneira de fazer a transição que está a demorar muito tempo. 

A líder da Triumph, Francisca Vermelho, lembra a “desproporção clara entre o sucesso académico e o sucesso empresarial das mulheres” e nota que “isso tem que ter uma explicação para lá das capacidades femininas”; mas defende que não é através de quotas que se consegue uma sociedade justa e igualitária. A gestora defende outras medidas, como as que permitem que as mães de família ajustem o horário de trabalho ao horário familiar. É também este tipo de medidas (como a legislação que dá benesses aos pais no período pós-parto, por exemplo) que vão tornar indiferente o género do candidato na altura de escolher um gestor de topo, segundo Vera Pires Coelho. A presidente da Edifer acredita que as próximas gerações “já viverão uma situação equilibrada entre géneros, na generalidade das situações”.

 

Notícia de: 10.03.2011 – 07:39 Por Luísa Pinto, PÚBLICO